Sunday, December 18, 2011

Carta do pai

RIP daddy  -  12/02/2011


Filha,

O dia em que este velho já não for o mesmo, tenha paciência e me compreenda. 

Quando eu derramar comida sobre minha camisa e esquecer como amarrar meus sapatos, 
tenha paciência comigo e se lembre das horas que passei te ensinando a fazer as mesmas coisas. 

Se quando conversa comigo, 
e repito sempre as mesmas palavras, 
não me interrompas e apenas me escute. 
Quando era pequeno, para que dormisse,
 tive que contar-lhe milhares de vezes a mesma estória até que fechasse os olhinhos. 

Quando estivermos reunidos e, sem querer, fizer minhas necessidades, 
não fique com vergonha e compreenda que não tenho a culpo disso.
Pensa quantas vezes quando menina te ajudei e estive pacientemente ao seu lado
 esperando que terminasse o que estava fazendo. 

Quando me vejas inútil e ignorante na frente de todas as coisas 
tecnológicas que já não poderei entender, 
te suplico que me dê todo o tempo que seja necessário 
para não me machucar com o seu sorriso sarcástico. 
Lembre-se que fui eu quem te ensinou tantas coisas.
Comer, se vestir e como enfrentar a vida tão bem com o faz, 
são produto de meu esforço e perseverança. 

Se alguma vez não querer comer, não insistas. 
Sei quando posso e quando não devo. 
Também compreenda que, com o tempo, 
já não tenho dentes para morder, nem gosto para sentir. 

Quando minhas pernas falharem por estarem cansadas para andar, 
dá-me sua mão terna para me apoiar, 
como eu o fiz quando começou a caminhar com suas fracas perninhas. 

Por último, quando algum dia me ouvir dizer que já não quero viver 
e só quero morrer, não te enfades. 
Trate de compreender que já não vivo, senão que sobrevivo, e isto não é viver. 

Sempre quis o melhor para você e preparei os caminhos que deve percorrer. 
Então pense que com este passo que me adianto a dar, 
estarei construindo para você outra rota em outro tempo, porém sempre contigo. 

Não se sinta triste, enojado ou impotente por me ver assim. 
Dá-me seu coração, compreenda-me e me apóie como o fiz quando começaste a viver. 

Da mesma maneira que te acompanhei em seu caminho, 
te peço que me acompanhe para terminar o meu.

Atenciosamente, 

Teu Velho