Sunday, September 26, 2010

Coração é terra que ninguém vê



Quis ser um dia, jardineira de um coração.






Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri. 


Quis ser um dia, jardineira de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei. 

Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.

O resto se perdeu na terra dura da ingratidão 
Coração é terra que ninguém vê - diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho, - teu coração. 

Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...

Cora Coralina
(1889-1985)